quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fidelidade





O famoso Dionísio, tirano de Silícia, condenou à morte um cidadão. Foram inúteis as lágrimas, os rogos e tudo foi insuficiente para convencer aquele coração de pedra.
– Vou lhe pedir um último favor – disse o réu a Dionísio.
– Tudo te concederei, menos a vida.
– Tenho mulher e filhos; meus negócios acham-se em más condições, minha família ficará completamente arruinada, se eu mesmo não for deixar tudo em ordem.
– É impossível o que você pede – disse Dionísio.

– Escute, sou homem que cumpro minha palavra. Se o senhor me conceder 10 dias, juro que antes que se finde o prazo estarei à sua disposição.
Ante nova negativa de Dionísio, propôs, então:
– Se eu encontrar um amigo que se encerre na prisão e que sua cabeça responda pela minha, me dará, ó rei, a licença?
– Quantos dias você precisa? – perguntou o rei.
– Dez dias.
– Se há alguém que responda por você, lhe darei vinte dias.

Aquela mesma tarde o réu se pôs a caminho, pois um amigo se tornou o prisioneiro. Passaram-se 10 dias, 12, 15, 19 dias, chegou o 20º dia e tudo estava pronto para a execução e o condenado não chegava.
Dionísio foi à prisão, encontrou o substituto do réu com bom humor.


– Você sabe que dia é hoje? – perguntou o rei.
– Eu sei, ó rei Dionísio, é o 20º dia.
– Você sabe que morrerá às 12 horas. E você não teme a morte?
– Sei que não morrerei.
– Por acaso você espera que eu lhe perdoe?
– Não; espero que meu amigo volte e tenho certeza que virá.
Dionísio contemplou-o cheio de assombro e, admirado pela certeza daquele homem, permaneceu mudo por um grande espaço de tempo.
Pouco antes de soar a hora fatal, conduzira o réu ao lugar da execução e Dionísio seguiu o acompanhamento até o cadafalso.

O verdadeiro condenado não se apresentava. O carrasco afiava a espada homicida com que lhe havia de cortar a cabeça.

A hora se aproximava, quando de repente ouviram um grito:
– Esperem! Esperem! – E foi então visto um homem a toda pressa abrindo caminho entre a multidão.
Com efeito, chegara o verdadeiro réu
 ao pé do cadafalso e atirando-se aos pés do rei, exclamou: "Obrigado! Obrigado!" Depois abraçou a seu amigo, e dirigindo-se ao carrasco, disse:
– Aqui está minha cabeça, corte-a.
– Não, eu lhe perdoo – acudiu o rei. Mas há uma condição: vocês são dois amigos, quero que de agora em diante sejamos três.
Deus é digno de tal fidelidade.

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